As lendas folclóricas são histórias populares contadas de forma oral e que são passadas de geração para geração.
As lendas e histórias populares existem desde os primórdios da humanidade. Elas surgem da necessidade que havia entre os povos de perpetuar seus ensinamentos e a sua cultura. Ao longo dos anos, essas lendas se tornaram inúmeras por todo o mundo, tendo cada país seu folclore.
No Brasil não seria diferente. Devido a sua origem miscigenada, o povo brasileiro possui diversas lendas espalhadas por todo o país. Algumas divergências em detalhes podem ser facilmente identificadas de estado para estado, porém a essência das histórias permanece a mesma.
O mais importante é sempre lembrar que as lendas folclóricas não são mentiras inventadas nem verdades absolutas, elas são apenas uma forma do povo contar a história daquele lugar e manter as suas tradições vivas.
O que é uma lenda folclórica?
Uma lenda folclórica é uma história popular transmitida de pai para filho.
De origem inglesa, a palavra folclore significa a cultura do povo. Pode-se entender então, que o folclore representa os ensinamentos adquiridos ao longo da vida e perpetuados em forma de histórias.
Lendas folclóricas brasileiras
Saci-pererê
O Saci é um menino negro que perdeu uma das pernas lutando capoeira. Está sempre fumando um cachimbo e usa um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos.
Travesso por natureza, ele adora trançar os rabos e as crinas dos cavalos, atrapalhar as tarefas domésticas e confundir os viajantes fazendo com que eles se percam.
O Saci também é um grande conhecedor das plantas e ervas. Por ser o guardião das matas, é preciso pedir a autorização dele antes de pegar qualquer erva medicinal.
Com nome derivado do Tupi Guarani, acredita-se que a lenda do Saci-pererê é de origem indígena, mas foi tomando sua forma atual ao longo dos anos através da influência das culturas africana, portuguesa e mulçumana.
Iara
Iara é uma bela sereia de olhos castanhos e cabelos pretos muito longos, que vive nas águas dos rios amazônicos, e atrai os homens com seu canto para dentro do rio, levando-os à parte mais profunda onde morrem afogados.
Diz a lenda que Iara era uma jovem muito bonita que vivia numa tribo com sua família. Porém, seus irmãos sentiam inveja dela e decidiram matá-la. Por ser uma boa guerreira, ao ser atacada Iara acaba matando seus irmãos. Seu pai, que era o pajé da tribo, jogou-a ao rio como castigo por seu crime. Os peixes, porém, decidiram salvar a dona de tamanha beleza a transformando em sereia.
Cuca
Com provável origem no folclore galego-português, a Cuca é uma bruxa com aparência muito semelhante a um jacaré, com unhas imensas e uma insaciável fome por crianças desobedientes.
Junto do Bicho-papão, ela faz parte de uma das canções de ninar mais popular. Mas sua forma mais conhecida é a narrada por Monteiro Lobato nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo.
Esse mito foi representado também na arte. A pintora moderna Tarsila do Amaral produziu uma obra inspirada na Cuca em 1924, que atualmente está exposta no Museu Grenoble na França.
Vitória Régia
Essa história amazônica conta sobre a origem da planta aquática que é símbolo do estado Norte. Para os indígenas a lua era Jaci, um deus que namorava as jovens mais belas da tribo. Ao encontrá-lo, as jovens eram levadas para o céu e transformadas em estrelas.
De acordo com a lenda a índia Naiá foi uma das namoradas de Jaci e vivia ansiosa para encontrar-se com ele, apesar de toda a tribo alertá-la de que não seria mais uma índia quando o encontrasse.
Apaixonada, porém, Naiá foi até a beira do rio durante a noite e contemplou a imagem da lua refletida nas águas. Encantada com a beleza de Jaci, a jovem se inclina para beijar sua imagem refletida, caindo no rio. Embora desperta do seu transe e lutando por sua vida, Naiá acaba se afogando.
Ao saber do triste destino da jovem, Jaci fica comovido e decide homenageá-la. Ao contrário das outras jovens que se tornaram estrelas, Jaci transforma Naiá na Vitória Régia, conhecida na região como a estrela das águas.
Mula sem cabeça
Essa lenda trazida à América pelos colonizadores, tem provável origem na Península Ibérica. A história também possui versões na Argentina e no México.
Possui duas vertentes. A primeira diz que se uma mulher tiver relações com seu namorado antes do casamento se tornará uma mula sem cabeça. Já a segunda diz que uma mulher se transforma na criatura ao manter relações com um padre.
Ambas as versões buscavam instigar o medo nas mulheres para manterem-se nos padrões da moralidade. E a imagem da mula sem cabeça apenas reforçava esse sentimento.
Com chamas no lugar da cabeça, e emitindo relinchos e gemidos tão altos que podem ser ouvidos a quilômetros de distância, a mula passa a noite correndo pelas matas despedaçando com suas patas qualquer ser que surgir em seu caminho.
Ainda de acordo com a lenda, o feitiço só pode ser quebrado se alguém conseguir arrancar seu freio ou sangrar-lhe com algum objeto pontiagudo.
Boto cor de rosa
Esta é mais uma lenda amazônica. Acredita-se que o boto seja um parente dos golfinhos que vive nos rios do norte do país.
Nas noites de lua cheia ele aparece na forma de um homem muito bonito e comunicativo todo vestido de branco. Ao conquistar uma jovem, ele a leva até o rio e a engravida. Na manhã seguinte ele volta a sua forma original.
Até hoje na região norte do país, quando uma mulher engravida, mas não sabe quem é o pai, costuma-se dizer que a criança é filha do boto.
Curupira
Não há um consenso sobre quando a lenda do Curupira surgiu, mas há relatos no século XVI onde o padre José de Anchieta o descreve como um demônio que atormenta os índios e os bandeirantes.
O pequeno protetor das florestas de cabelos vermelhos como fogo, tem seus pés virados para trás, podendo assim despistar os caçadores que tentarem segui-lo. O Curupira é visto como um ser muito perigoso, com o poder de raptar crianças, devolvendo-as aos pais depois de sete anos.
Ele ainda gosta muito de beber pinga e fumar, e prefere a solidão das florestas. Seu ponto fraco é a curiosidade. Diz a lenda que os caçadores que caiam em suas armadilhas conseguiam escapar ao jogar ao Curupira um novelo de lã.
Seu nome vem do Tupi-guarani e significa corpo de menino.
Caipora
A Caipora é outra figura protetora das florestas. É comumente confundida com o Curupira, pois ambos tem a mesma missão e gostos muito parecidos. Porém, ao contrário do Curupira, não há relatos de que a Caipora seja perigosa.
De origem Tupi-guarani, seu nome significa habitante do mato. Quando percebe que há caçadores na floresta ela começa a uivar e gritar para assustá-los. Nos dias santos e nos finais de semana dizem que sua força pode aumentar.
Pequena, de cabelos vermelhos e orelhas pontiagudas, existem histórias de que seu corpo é todo vermelho e outras que é todo verde. Não há também um consenso sobre seu gênero, podendo ser representada tanto como mulher quanto como homem.
Negrinho do pastoreio
Sua origem se baseia nas culturas africana e cristã, e provavelmente surgiu no século XIX na região sul do país, onde ainda é muito forte.
A lenda conta sobre um jovem escravo que sofria diversos maus tratos do seu senhor. Um dia o fazendeiro lhe colocou para cuidar dos cavalos, mas um deles acabou fugindo. Ao retornar, o senhor percebeu a falta do cavalo Baio. Ele mandou então o pequeno escravo recuperar o animal.
Apesar de conseguir encontrar o cavalo, o negrinho não conseguiu captura-lo. Ao ver o garoto chegando de mãos vazias o fazendeiro fica furioso e decide castiga-lo com diversas chibatadas. Não sentindo ser suficiente, o senhor decidiu então colocar o menino sangrando em cima de um formigueiro.
Achando que o pequeno escravo já estava morto, o fazendeiro resolve deixar seu corpo no ali mesmo. No dia seguinte, porém, para sua surpresa, o homem encontra o garoto montado no cavalo Baio, sem qualquer ferimento e com a Virgem Maria ao seu lado. Ele ainda tenta pedir perdão, mas o menino vai embora cavalgando.
Atualmente acredita-se que o negrinho do pastoreio ajuda a encontrar objetos perdidos. Basta acender uma vela ao lado de um formigueiro e pedir com muita fé.
Lendas folclóricas desconhecidas
Mãos-peludas
Essa lenda da Inglaterra conta sobre um fantasma do qual as vítimas só consegue ver as mãos muito peludas. Ele ataca na pequena estrada de Dartmoor, tomando o volante dos motoristas para jogar o veículo para fora da estrada ou batendo no vidro dos carros estacionados no acostamento. Ainda de acordo com a lenda o Mãos-peludas mata apenas por prazer.
A fauna do espelho
Oriunda da China Antiga, essa lenda conta sobre os povos que vivem em um mundo paralelo. Não se sabe o porque, mas um dia essas criaturas decidiram atacar essa realidade usando os espelhos como portal mágico. Houve anos de guerra e muitas vidas foram perdidas até que o Imperador Amarelo conseguiu expulsar os invasores.
Acredita-se, porém, que um dia o povo do espelho despertará em todas as suas formas, e atravessará os portais mais uma vez colocando esse mundo em guerras e sofrimentos. Só que dessa vez as criaturas não serão vencidas.
Gjengangers
Esta é uma lenda da Escandinávia que conta sobre os mortos que saem de suas tumbas para resolverem assuntos inacabados. De acordo com as histórias, comumente são os corpos de suicidas, vítimas de assassinato ou assassinos.
Os Gjengangers vão atrás de seus parentes para não ficarem sozinhos na morte e assim poderem resolver as pendências pelas quais voltaram.
Ao entrarem em contato com os vivos, essas criaturas beliscam a pele da pessoa fazendo o local necrosar espalhando a infecção rapidamente por todo o corpo.
Ao contrário dos zumbis comuns, seus hábitos costumam ser noturnos.
Bakhtak
Originária do Irã, essa lenda conta como uma criatura parecida com um goblin sufoca suas vítimas até a morte enquanto elas dormem. Aqueles que conseguem acordar a tempo sentem o corpo paralisado e um peso sufocante no peito.
Bakhtak é uma palavra persa que significa pesadelo. Essa lenda surgiu num época em que a ciência não estava tão interessada em estudar sobre os horrores noturnos.
La llorona
Também conhecida como Bela da Meia Noite, essa lenda mexicana fala sobre um espírito vagante de uma mulher que cometeu suicídio após matar o próprio filho.
A história original conta que Maria era a moça mais bela de seu vilarejo que sonhava em se casar com um homem muito rico. Quando um fazendeiro chegou à cidade ela viu sua chance de realizar o sonho. Logo ela conquistou o homem e eles se casaram, mesmo sem a aprovação da família dele.
Eles viveram por algum tempo muito felizes, com o marido a enchendo de mimos. Porém, após Maria dar à luz seus dois filhos ele mudou completamente, deixando-a constantemente sozinha.
Quando Maria encontrou seu marido com outra mulher ela enlouqueceu com a raiva e descontou em seus filhos, levando-os até o rio e afogando-os. Quando contou a ele o que fez, o marido a abandonou.
Pouco tempo depois Maria tirou a própria vida. Seu espírito então passou a assombrar o rio. Diz a lenda que é possível ouvir seus lamentos chamando por seus filhos.